Educação não formal: pedagogia social transformadora e motivadora
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RESUMO
Poucos são os estudos sobre a prática de educação não-formal, embora diferentes seguimentos da sociedade venham direcionando o olhar para esta pedagogia social como campos de conhecimento e de ação profissional.
A escola é uma instituição que desenvolve papel central na formação dos educandos que por ela passam, exercendo principalmente acesso aos conhecimentos historicamente sistematizados. Porém, a educação vai além do espaço delimitado pelos muros escolares e salas de aula.
O indivíduo ao longo de toda a tragetória de vida adquire conhecimentos concebidos por suas próprias experiências, por relações socias com outros indivíduos, no âmbito familiar e em instituições educadoras formais e não formais. Esta última nada mais é que um processo de aprendizagem social centrada no indivíduo, por meio do desenvolvimento de atividades extra-escolares. É um processo voluntário de aprendizagem e de educação fora da escola, que acontecem em ongs, instituições religiosas, iniciativas particulares e programas sociais públicos.
Essa prática é necessária e importante quando se pensa em um processo educacional que priorize a prática de atividades que favoreçam atividades culturais, de criação, esportes, rodas de conversas, relações de trocas de vivências, entre diversas outras atividades educacionais. Tanto as conceitualizações quanto os trabalhos empíricos, apresentam interdisciplinaridade e flexibilidade como características desta modalidade de educação. A educação não-formal pode desenvolver-se nos mais variados espaços, sendo uma modalidade crescente no cenário nacional e pouco explorada nos meios acadêmicos.
PALAVRAS – CHAVES: Educação não-formal; Educador social; Pedagogia social.
INTRODUÇÃO
No campo educacional existem três práticas diferentes, que acontecem separadas, porém, não independentes uma da outra, são elas: educação formal, educação informal e educação não-formal.
Educação formal trata-se do que ocorre dentro de escolas públicas e privadas, cursos de aperfeiçoamento e treinamento, etc., onde o desenvolvimento das aulas acontece na maioria das vezes dentro de uma sala, por meio de livros didáticos, lousa e caderno.
A educação informal está diretamente voltada ao comportamento, hábitos, valores não intencionados e não institucionalizados.
A prática da educação não-formal ocorre no período inverso ao que o aluno frequenta a escola regular.
De acordo com Libâneo (2002), podemos entender que a educação não-formal refere-se às organizações políticas, profissionais, científicas, culturais, agências formativas para grupos sociais, educação cívica, etc., com atividades de caráter intencional. A educação não-formal vem apresentando crescimento em nosso país, principalmente no estado de São Paulo onde obras sociais, organizações não governamentais e instituições privadas e religiosas, se preocupam com a realidade social de crianças e adolescentes que vivem principalmente em bairros periféricos e de baixa renda.
A prática da educação não-formal desenvolvidas por diversas instituições, ocupam o aluno com atividades produtivas e longe do tempo ocioso inverso ao escolar, onde um número grande de crianças ficariam pelas ruas, sujeitas à conhecerem uma realidade bastante real no país, como drogas, cigarro e bebida. Ao contrário, a criança ou adolescente frequentadora de projetos sociais, tem a oportunidade de aprenderem uma profissão, pelo fato de que a maioria das instituições e projetos de educação não-formal desenvolvem seus trabalhos por meio de oficinas culturais, esportivas e profissionalizantes.
“Talvez o maior problema para entender a tragédia do desenvolvimento brasileiro, seja compreendê-lo subordinado à lógica econômica que trata as classes sociais como se tivessem organizadas de forma contínua. Como se Apartheaid só fosse racial e localizado na África do Sul.” (Cristóvão Buarque).
HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO NÃO-FORMAL
“O homem não pode participar ativamente na história, na sociedade, na transformação da realidade se não for ajudado a tomar consciência da realidade e da sua própria capacidade de transformar [...] Ninguém luta contra forças que não entende, cuja importância não meça, cujas formas de contorno não discirna; [...] Isto é verdade se, se refere às forças sociais[...] A realidade não pode ser modificada senão quando o homem descobre que é modificável e que ele o pode fazer.” (PAULO FREIRE)
A expressão “educação não-formal” começa a aparecer relacionada ao campo pedagógico simultaneamente a uma série de críticas ao sistema formalizado de ensino, em um momento em que diferentes setores da sociedade como serviço social, saúde, cultura, pedagógico e outros, veem o universo escolar e a família, impossibilitados de representar todas as demandas sociais que lhes são cabíveis, impostas ou ainda desejadas.
O termo educação não-formal apareceu no final da década de sessenta. Neste período surgem discussões pedagógicas, vários estudos sobre a crise na educação, as críticas radicais a instituição escolar, a formulação de novos conceitos e seus paradigmas. Assim esta crise é sentida na escola e acaba por favorecer o surgimento do campo teórico da educação não-formal (TRILLA,1996).
Dentre os fatores considerados importantes para o surgimento da educação não-formal, pode-se citar as mudanças ocorridas nas estruturas familiares de classe alta, e até mesmo aquelas mudanças que resultaram devido às modificações nas próprias relações de trabalho, assim como o fato das crianças e jovens na atualidade não terem espaço seguro para desenvolverem a socialização no mundo moderno e suas transformações, no sentido de redirecionarem e reorganizarem a estrutura familiar conforme as necessidades de espaço, trabalho e localidade, e até mesmo a preocupação de deixar os filhos, sendo que os pais, por opção ou por necessidade, são direcionados para o campo profissional.
Todas estas modificações, em seus contextos trouxeram a necessidade da sociedade se reorganizar, respondendo às mudanças inclusive no campo educacional.
Estes fatores levaram a percepção de que somente os modelos de educação difundidos pela escola e pela família já não mais davam conta da realidade social atual, entretanto não havia conhecimento, credibilidade e amadurecimento das propostas para preencher as lacunas existentes.
Cada característica promoveu por um lado o fortalecimento de uma nova maneira de compreender o papel da educação formal e por outro, para dar visibilidade a outros fazeres educacionais fora do contexto da escola tradicional, passando a legitimar e valorizar outras maneiras de educar e educar-se e, por fim, a compreensão e aceitação de que o meio também educa.
A educação não-formal está sendo difundida, mas não se restringindo somente aos processos de ensino-aprendizagem nas escolas formais, tem o seu foco em oficinas artesanais, culturais, esportivas e recreativas.
Segundo Gohn (2008), esta modalidade aborda processos educativos que acontecem fora da escola, em organizações sociais, movimentos não governamentais (ONGs) e outras entidades filantrópicas atuantes na área social.
Até os anos oitenta a educação não-formal era um campo com menos importância no Brasil, tanto para as políticas organizacionais quanto aos educadores.
Afonso (1992) entende a educação formal, como aquela organizada com uma determinada sequência e proporcionada pelas escolas.
Os pais informalmente em casa, garantem a seus filhos as mesmas oportunidades dos “saberes”, porém a escola vem trazendo um saber elitizado e em muitas vezes, excluindo os já excluídos pela sociedade.
A educação transmitida pelos pais na família, na interação com os amigos, no convívio diário em clubes, teatros, leituras de jornais, revistas, livros, etc; são considerados temas da educação informal, aquela que ocorre nos espaços de possibilidades educativas no decurso na vida, tendo caráter permanente. O que difere a educação não-formal da informal, é que na primeira existe a intencionalidade de dados, dispostos a criar, proporcionar ou buscar determinadas qualidades com objetividade.
Inicialmente a educação não-formal era vista como um conjunto de processos delineados para alcançar a participação de indivíduos a determinados grupos:
• De alcance rural;
• De envolvimento comunitário;
• De educação básica ou planejamento familiar.
As mudanças econômicas, sociais, principalmente com relação ao mundo do trabalho, ocorrentes nos anos noventa trouxeram grandes destaques a educação não-formal. Os processos de aprendizagens em grupos passaram a serem valorizados, dando importância aos valores culturais que articulam as ações dos indivíduos. Passou-se, ainda, a falar de uma nova cultura organizacional que, em geral exige aprendizagem de habilidades extra-escolares. Mas, o novo campo para a educação não-formal não se formou apenas pelas mudanças econômicas e pelos apelos da mídia que utilizava atividades e projetos desenvolvidos em entidades sociais como pano de fundo para incentivos fiscais ou abatimentos em deduções fiscais.
Garcia (2007), cita Philip Coombs, como um dos primeiros autores a considerar a educação não-formal no amplo contexto educacional sendo reconhecido por outros autores como a origem da educação não-formal e informal, aplicados a área da educação.
Alguns estudiosos e organismos internacionais como a ONU e a UNESCO também têm contribuído para as discussões que giram em torno do assunto.
Em 09/03/1990 na Tailândia, foi realizada uma Conferência Mundial sobre eduação para todos, dando origem a dois documentos denominados “Declaração mundial sobre educação para todos e plano de ação para satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem” onde as experiências das ONGs em programas de educação foram consideravelmente delineadas como possibilidade efetiva de trabalho na área educacional.
É possível concluir que, partindo deste documento, a educação-formal começa a ser formalizada como campo pertencente ao setor educacional. Parece ser este o momento do nascimento, não da ação da educação-não formal, como área conceitual.
Mesmo existindo uma aceitação, ao menos por pesquisadores e estudiosos da terminologia “educação não-formal” e de quais ações e propostas estão presentes neste campo, os textos estudados nos mostram que há um processo de aceitação de tudo isso, e que em alguns aspectos, ele é bastante lento, ainda sem muita clareza sobre qual relação da educação não-formal com outras áreas de conhecimento, como também uma “definição” do termo, fato que ainda aponta discussões e necessidades de estudos e pesquisas.
EDUCAÇÃO NÃO-FORMAL: PRÁTICAS E REALIDADES
Entende-se como projeto social o conjunto de valores, crenças, propostas e diretrizes que explicam e organizam a práxis de um movimento, grupo ou organização social.
Este conjunto de idéias revela a opção política do grupo através de sua forma de conhecer e atuar socialmente de forma concreta, de determinar suas metas, objetivos e estratégias devendo ser extraído e compartilhado pelo coletivo (GOHN, 2005).
A Organização não Governamental – ONG – é definida como uma organização que não seja parte do governo, nem tenha sido fundada pelo Estado, dispondo de autonomia administrativa e atuando sem fins lucrativos em áreas específicas, como as de natureza social, cultural e com objetivos essencialmente não comerciais. Parte de seus recursos tem origem privada. Geralmente é associada à Organização das Nações Unidas.
Gohn (2008), ao estudar a educação não-formal, desenvolvida junto a grupos sociais organizados ou movimentos sociais, chama nossa atenção para as questões das metodologias e modos de funcionamento, por ser um dos aspectos mais relevantes do processo de aprendizagem, mas lembra que é preciso aprofundar as pesquisas ao redor dos movimentos sociais e seus processos de encaminhamento.
Garcia, em palestra ministrada no GEMEC – Campinas em 09/08/2008, fala que a educação não-formal tem que ser compreendida pela sociedade como um direito e não como assistencialismo, embora este olhar de assistencialismo para com as ONGs e os projetos sociais esteja impregnado da visão de sociedade, até mesmo nas comunidades inclusas e nas entidades. Isso acontece, segundo a estudiosa, porque muitas vezes a sociedade deixa de cobrar do poder público, suas devidas obrigações, embora, mais a frente ela afirme que em alguns casos realmente não se trata de projetos, mas sim de assistencialismo, o que muitas vezes encontra-se guiado pela mídia ou pelo enaltecimento pessoal.
A educação não-formal vai além do assistencialismo. Visa ao desenvolvimento de valores, acreditando que a aprendizagem se dá por meio das práticas sociais, respeitando as diferenças existentes para a absorção e elaboração dos conteúdos implícitos ou explícitos no processo ensino e aprendizagem.
A flexibilidade é bastante presente no estabelecimento dos conteúdos que permeiam a educação não-formal, assim como a criação e organização de seus espaços, sendo criados e recriados conforme os modos de ação previstos nos objetivos maiores que dão sentido ao fato de determinadas necessidades de grupos sociais pertencentes à comunidade estarem se reunindo.
Os espaços de educação não-formal, segundo Simson e Park (2001), deverão ser desenvolvidos segundo alguns princípios como:
• Apresentar caráter voluntário;
• Proporcionar elementos para a socialização e solidariedade;
• Visar o desenvolvimento social;
• Favorecer a participação coletiva;
• Proporcionar a investigação e, sobretudo proporcionar a participação dos membros do grupo de forma descentralizada.
Assim, devem ser considerados os desejos e anseios da comunidade com a qual se pretende trabalhar e partindo de estudos, do conhecimento da realidade em questão, fazer uma integração com as ações a serem desenvolvidas.
A partir destas caracterizações, fica claro que não há como pensar a educação não-formal sem levar em consideração a comunidade, pois é muito difícil o envolvimento voluntário e de doação das pessoas com algo a que não se sintam pertencentes. Por estas razões, atualmente muitos projetos foram fundados e contam não somente com voluntários, mas também com funcionários contratados de acordo com as leis trabalhistas, dentre eles, professores, secretários, assistentes sociais, psicólogos, etc. Em determinados municípios esses projetos ou instituições recebem auxílio financeiro para o pagamento de seus funcionários.
Quando a escola é vista como um espaço social, levando em conta os constantes processos de construção de identidade, sendo eles de caráter pessoal e social, automaticamente temos que pensar em práticas que o tempo todo nos faça manter parceiros da sociedade, favorecendo processos, onde a mesma possa integrar e transformar.
Muitas entidades e projetos sociais, organizam as suas atividades enriquecendo seus espaços com atividades comumente denominadas de oficinas.
Para Silva (2007), oficinas são espaços organizados por um grupo social, onde são direcionadas propostas ligadas ao fazer, a aplicabilidade de determinadas atividades que possibilitem o ato de aprender, não somente aquilo que é ensinado, como também o que o meio lhe possibilita, levando em consideração o espaço, materiais, memória, enfim, aquilo que esteja sendo vivenciado e efetuado no momento dessas vivências.
A oficina que conscientiza e promove a transformação é aquela que propicia ao sujeito a importância de sentir-se parte, parte das ações envolvidas e desenvolvidas, que tem como foco de visão construir perspectivas de maiores descobertas e potencialidades, que age como órgão facilitador de expressão. Nesta idéia destacam-se algumas oficinas em evidência no cenário das obras sociais.
O EDUCADOR SOCIAL
O educador, ou ainda, o educador social, segundo Caro e Guzo (2004), são denominações dadas ao profissional que se insere em projetos sociais e ou em ações existentes em projetos.
Segundo as autoras acima, o nome educador apareceu denominando este profissional por falta de nomenclatura cabível, sendo que neste campo educacional existem pedagogos ou estagiários e existe também um número considerável de voluntários atuantes neste campo da educação sem formação na área pedagógica, os “leigos”, como muitas vezes são chamados, porém, em diversos casos, portadores de habilidades artesanais e culturais, que dispõem de seu tempo para repassar seus conhecimentos à todos os alunos frequentadores da entidade onde o mesmo (a) colabora.
Quando se trata de ter como foco o educador dentro das instituições, entidades, ONGs, centros comunitários muitos profissionais optam por esta área da educação por restrições do mercado de trabalho nas escolas formais, questionando o ingresso na educação não-formal como opção ou necessidade (TRILA, 2006).
Simson, palestrando para um grupo de educadores do GEMEC Campinas em 14/06/2008, aborda a relação do educador social com as práticas na educação não-formal, afirmando serem uma constante busca de transformação entre o negativo e positivo, procurando entender o peso do excluído, sem fazer diferenças, pois as diferenças impossibilitam um espaço de convivência, no sentido de poder captar e perceber as demandas e as dificuldades dos educandos.
Esse autor também identifica, como falha, o fato do educador querer ver os educandos de forma homogênea, sem levar em consideração que as crianças inseridas neste campo educacional têm suas particularidades, (assim como as demais), carregando consigo suas singularidades e seus problemas de convívio social.
O educador social tem que mediar interesses, levando o educando a querer buscar caminhos para a aproximação com o entendimento da vida em sociedade, conhecendo suas histórias sem negar suas memórias, resgatando-as de forma contínua.
As crianças e adolescentes, muitas vezes, levam consigo angústias e sentimentos de injustiça para as oficinas, e suas expectativas são unicamente serem ouvidos, cabendo ao educador utilizar-se de várias estratégias para que o diálogo aconteça, buscando a compreensão e transformando-a em valorização, fazendo da sua ação um multiplicador, capaz de transformar o estigma em qualidade, reintegrando o educando ao caráter colocado socialmente.
O ato do educador volta-se à busca da compreensão das mudanças políticas e sociais que ocorrem independente de nossas vontades, cabendo a ele descobrir nos educandos a corda que vibra, como dizia Dom Bosco (2005), ao referir-se às jóias escondidas dentro de cada criança, de cada adolescente, que eles próprios desconhecem a existência.
Todo educador deve ser um profissional reflexivo, ou seja, aquele que está sempre se questionando, revendo, aperfeiçoando sua prática e se auto-avaliando, este é o profissional crítico, aquele que leva o aluno a pensar. Dessa forma, há uma troca, pois enquanto o educador está ensinando, ele também está aprendendo.
Gadotti (2007, p.42) enfoca a constante preocupação do educador Paulo Freire voltado para a formação do professor e destaca: “o professor precisa saber muitas coisas para ensinar, mas o mais importante não é o que é preciso saber, mas como devemos ser para ensinar. O essencial é não matar a criança que existe ainda dentro de nós. Matá-la seria matar o aluno que esta à nossa frente”.
Alguns educadores chegam até a educação não-formal por acaso, outros por opção, e outros, ainda, por identificação com as lutas sociais, levando em consideração que na visão dos movimentos sociais, a educação, seja ela formal, não-formal ou informal é vista como uma luta de classes.
Os educadores que atuam neste contexto tem funções diferentes, não como um quebra cabeça com peças prontas, mas como um encontro de peças que se encaixam com a prática, com a vivência de cada um, com suas diferenças, seus questionamentos.
Fator de grande importância na prática não-formal, é a flexibilidade que se apresenta, que se faz necessária nesta educação, pois não é a atividade que vai dizer o que ou quem é a educação não-formal, mas sim o projeto político adotado e vivenciado pelo educador e consequentemente pela criança.
Assim, o educador social pode ver as possibilidades de contribuição para a transformação, olhando para si e se vendo como agente transformador, fugindo às propostas ideológicas que há por trás de tudo, fugindo da visão salvadora de querer inserir a criança na sociedade sendo que ela já nasce parte de uma sociedade.
Com base na vivência diária, o educador não deve usar o desânimo, cruzar os braços ou dizer que não adianta contribuir, pois o cotidiano é que faz a educação acontecer, quando se está com a criança e os adolescentes, os valores e crenças também estão juntos.
Freire (1996, p.53 ) nos diz que como educador precisamos olhar para o que os grupos com os quais trabalhamos trazem consigo não simplesmente para o que falam deles, assim, “a leitura do mundo precede a leitura da palavra” e continua, dizendo que um bom educador é aquele que sabe provocar inquietudes, que aguça a curiosidade, mas que permite que o educando busque com autonomia.
Ao falar do educador social, Caro e Guzo (2004) destacam a satisfação pessoal como sendo um grande diferencial, além das qualidades adquiridas independentemente de conhecimentos adquiridos na academia.
Este educador social também possui a consciência de sua pouca valorização e da importância de sua relação com os educandos, sendo ciente da responsabilidade social que o segue. Além disso, a competência técnica científica precisa ser compatível com a amorosidade necessária as relações educativas (FREIRE, 1996).
O educador precisa ser coerente em seu discurso e em sua ação prática. Só há oportunidade de educar para a vida se a escola estiver imersa na realidade e na vida cotidiana dos educandos, de suas famílias, comunidade, município e país.
Park (2005) realizou uma pesquisa envolvendo educadores do ensino formal responsáveis por possíveis pontes com projetos desenvolvidos por ONGs, a perceber como enxergam os projetos vivenciados pela educação não-formal e suas estratégias de ação. Foi interessante perceber no relato de uma vice-diretora, ao falar das parcerias com as ONGs e outras entidades, considerando-as importantes, porém abordava questões como falta de práticas diárias nas relações, apontando também para questões como o autoritarismo frequente. Apesar disso, enalteceu o trabalho das ONGs como realmente necessários, principalmente onde o poder público não atuava.
Já na fala de outra educadora do ensino formal, fica clara a falta de credibilidade, da inconstância em muitas atividades exercidas pela educação não formal, citando como exemplo o reforço escolar relacionado aos modos de compensarem as carências socioeconômicas dos atendidos e as dificuldades estruturais das próprias organizações.
Mas, de forma geral, podemos observar que os educadores, sejam aqueles que trabalham no ensino formal, sejam aqueles que trabalham nos projetos considerados de educação não-formal, acreditam que todos poderão beneficiar-se de um trabalho que acompanha as duas propostas educativas.
Segundo Trilla (1993) o setor educativo não - formal é disperso e heterogêneo, mas enorme quanto à sua realidade atual e potencialidade futura.
No contexto educação não-formal, o trabalho do educador e dos oficineiros, necessitam de muita dedicação, criatividae e amor, pois para os educandos manterem-se participativos diariamente, as atividades devem ser prazerosas e dinâmicas, capazes de deixá-los envolvidos e compreendendo que aquele espaço onde frequentam, é de grande valia para torná-los bons cidadãos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e Pedagogos: para que?. São Paulo: Cortez, 2002.
FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.
TRILLA, J. A pedagogia da felicidade. Porto Alegre: Artmed, 2006.
GOHN, M. Educação não-formal e cultura política. São Paulo: Cortez, 2007.
AFONSO, Almerindo Janela. Sociologia da educação não-formal. In: Park, Margareth Brandini; FERNANDES, Renata Sieiro. Educação não-formal: contextos, percursos e sujeitos. Campinas: Setembro, 2005.
GARCIA, Valéria Aroeira. Educação não formal do histórico ao trabalho local. In: PARK; FERNANDES; CARNICEL (Org.). Palavras- chave em Educação não- formal. Holambra: Setembro; Campinas/CMU, 2007.
SILVA, Carla Regina. Oficinas. In: PARK; FERNANDES; CARNICEL (Org.). Palavras- chave em Educação não- formal. Holambra: Setembro; Campinas/CMU, 2007.
CARO, S.M.P. GUZZO, R.S.L. Educação social e psicologia. Campinas: Alínea, 2004.
SIMSOM, Olga Rodrigues de Moraes von .; PARK, Margareth Brandini ; FERNANDES, Renata. Sieiro. Educação não-formal: Cenários da Criação, (Orgs). Campinas: Unicamp, 2001.
PARK, M. B.; FERNANDES, R. S. Educação não-formal: contextos, percursos e sujeitos. In: PARK; FERNANDES; CARNICEL (Org.). Palavras- chave em Educação não- formal. Holambra: Setembro; Campinas/CMU, 2007.
Publicado por: Marcela Fernanda Ramos
O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.